domingo, setembro 26, 2004

2a parte do livro

Quando os efeitos do punch começaram a ser sentidos, cada qual fez um brinde diferente: à Sua
Graciosa Majestade, ao Tzar de todas as Rússias, à República . . . ao Pavilhão das Estrelas.
Então Mamelute se ergueu e disse gravemente:

- .Feliz Natal ao homem que viaja esta noite pela pista. Que seus cães conservem seu vigor, que os alimentos lhe sejam suficientes e que seus fósforos não falhem..

Como se em resposta a esse brinde, ouviu-se lá fora o estalar de um chicote, uivos de cães e o
ranger de um trenó que se aproximava da cabana. A conversa parou e todos esperaram em silêncio.
Depois alguns murmuravam:

- É um antigo. Está tratando dos cães antes de cuidar de si mesmo.

Os ouvidos experientes dos que estavam ali distinguiam nitidamente os latidos de seus próprios
cães, que o recém-chegado repelia para dar de comer somente aos seus.
Depois bateram à porta e quando o padre abriu, um vulto entrou e se deteve, deslumbrado pela
lâmpada. Era um belo tipo de homem e, a despeito do gelo formado em seus supercílios, via-se bem que era moço e extraordinariamente robusto. Além de um facão e dois revólveres em seu cinto, trazia uma carabina juntamente com o chicote, sob o braço esquerdo. Deu alguns passos e todos notaram que a sua fadiga era esmagadora e total. Indicaram-lhe um lugar na mesa, puseram um copo de punch diante dele. Mas ninguém lhe perguntou nem mesmo o nome.
Foi o homem que perguntou:

- Há quanto tempo passou por aqui um trenó em forma de cesta com três homens e oito cães?
- Há dois dias. Vens em sua perseguição?
- Sim. Aquela atrelagem pertence-me. Mas já ganhei dois dias sobre ela e espero apanhá-la na
próxima etapa.
- Quando partiste de Dansou?
- Ao meio-dia.
- De ontem, naturalmente.
- Não, de hoje.

Era meia-noite. Um murmúrio de admiração ergueu-se do grupo. Percorrer setenta e cinco milhas pela pista áspera do rio, em doze horas, era espantoso!
Mas os vapores do punch já se iam dissipando naquelas cabeças resistentes e, enquanto o
viajante engolia sofregamente uma refeição grosseira, a palestra continuou sobre os assuntos
habituais.
Depois, desviou-se enternecida para coisas de família e todos falaram dos entes queridos, que
tinham ou que perderam. Em resposta, o viajante tirou seu relógio da corrente que o prendia ao cinto e, abrindo-o, passou-o a Belden. Este aproximou-se da lâmpada e, examinando a tampa do relógio por dentro, deixou escapar uma praga de admiração. E passou o relógio a Luís Savoy. Este depois de admirar também, com os olhos arregalados, passou-o a Prince, cujo rosto tomou logo uma expressão de enternecimento. O que havia ali era o retrato de uma mulher, ainda
moça e bonita, tendo contra o peito uma robusta criança, que deveria ter seis meses e sorria.
Aqueles homens que viviam isolados do mundo, suportando fome, frio, escorbuto e arriscados à
morte súbita na terra ou na água, não podiam ver sem emoção a imagem de uma mulher e uma
criança, porque essas duas figuras lhes traziam ao seu espírito o lar, a felicidade de uma vida
confortável.
O viajante explicou:

- O garoto deve estar com dois anos e eu ainda não o vi.

Fitou por sua vez a fotografia, depois bateu bruscamente a tampa do relógio, mas não tão depressa que os outros não vissem as lágrimas em seus olhos. Ergueu-se com um profundo suspiro e Mamelute guiou-o para o mais próximo dos leitos presos à parede.

- Acorda-me às quatro horas em ponto. Não te esqueças. As quatro horas, pediu o homem.

Sua fadiga era tão grande que, mal pronunciou estas palavras, adormeceu.

- Que sujeito resistente! exclamou Prince. Três horas de sono depois de uma corrida de setenta e
cinco milhas com os cães e logo retomar a pista... É um homem! Tu o conheces?
- Sim. É Jack Westondale. Veio para a região há uns três anos. É conhecido por trabalhar como um cavalo e não ter tido sorte, até hoje.
- É triste... um rapagão destes, com uma esposa tão bonita, ter de vir se meter por anos e anos
neste deserto.
- E, coitado . . . por duas vezes, já fez fortuna, mas perdeu-a, concluiu Mamelute.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fi querido, ontem não consegui postar, mas mesmo assim, FELIZ ANIVERSÁRIO ATRASADO! Adoro vc de montão, beijos!

Anônimo disse...

Fi querido, ontem não consegui postar, mas mesmo assim, FELIZ ANIVERSÁRIO ATRASADO! Adoro vc de montão, beijos! (Call)